Avaliação em Contextos de eLearning - Diário de caminhada


 A fechar a unidade curricular (UC) de Avaliação em Contextos de eLearning, foi-me pedido um relatório, uma espécie de “Diário de Bordo” do percurso na UC.

Ora um “Diário de bordo” sugere uma viagem embarcada. Uma viagem no conforto de um avião ou embalada pelas águas, num barco. E eu não senti este percurso como uma viagem embarcada. Senti-o como uma etapa que foi percorrida a pé. Com esforço, cansaço, resiliência e alento dos companheiros de jornada.

Assim, esclareço que este não é um “Diário de bordo”. É antes uma “Diário de caminhada”. Às vezes por caminhos já trilhados, outras por caminhos por desbravar.

Numa viagem, a riqueza está mais no caminho que no destino e esta foi uma viagem em que me lancei com entusiasmo. Saber mais sobre como avaliar em contextos de eLearning foi um dos motivos para a minha candidatura ao mestrado de Pedagogia em eLearning por isso o espírito inicial era já de expectativa bastante elevada.


1ª etapa: Avaliação Pedagógica - Atuais perspetivas

Nesta primeira etapa, foi-nos pedido que analisássemos o artigo “Avaliação em Educação: da linearidade dos usos à complexidade das práticas”, de Jorge Pinto, e que identificássemos duas ideias fortes do texto. Esta atividade inicial foi o mote para a discussão em fórum sobre o tema…e que discussão! Foi debatido o conceito de avaliação pedagógica e explorado o seu papel enquanto recurso de aprendizagem. Avaliação formativa e sumativa (cujos papéis se complementam e, por vezes, se unificam), avaliação formadora, processos de metacognição e de autorregulação das aprendizagens, feedback, avaliação das e para as aprendizagens…tanto se explorou!

Como em qualquer conversa, experiências foram trocadas, num processo dialógico rico e interessante. Foi possível constatar que, como noutros campos da pedagogia, há de facto um hiato entre o plano teórico e o plano prático, sendo as mudanças na prática, muitas vezes limitadas pelo contexto institucional, sempre mais lentas que a evolução que se observa a nível de pesquisa e de novos conceitos pedagógicos.

Conclusão? Urge reconhecer que o objetivo da escola é ensinar a aprender. Que enquanto os alunos não se apropriarem do seu próprio processo de aprendizagem, o processo de ensino-aprendizagem estará sempre empobrecido. O mundo de hoje exige cidadãos preparados para aprender ao longo da vida, sendo a competência de construir o seu próprio conhecimento das mais importantes que a escola pode dar aos seus alunos. É indispensável explorar processos de metacognição e reconhecê-la como um meio de aprendizagem, apostando na autoavaliação reguladora. Para o sucesso deste processo, são determinantes o o papel do professor e o feedback de qualidade.

 

2ª etapa: Avaliação Pedagógica Digital em Contextos de Elearning

Será a avaliação em contextos de eLearning no fundamental diferente da avaliação presencial?

A turma foi dividida em grupos. Cada grupo devia analisar três textos, dois sugeridos pelas professoras – “Desafios da avaliação digital no ensino superior”, de Alda Pereira et al., e “A avaliação da aprendizagem no ambiente online, de Stella Porto - e um terceiro fruto da pesquisa do grupo – o meu grupo escolheu o artigo “Problemáticas da avaliação em educação online”, de Maria João Gomes. A partir da análise dos artigos, foi elaborado um artefacto com a síntese das especificidades da avaliação contexto online e as principais linhas de força dos três textos analisados. Os artefactos realizados pelos grupos foram alvo de observação, análise e discussão pela turma toda em fórum próprio. Foi possível, para além do debate sobre a especificidade da avaliação pedagógica em contextos de e-learning, compreender alguns modelos teóricos deste tipo de avaliação.

Que balanço? Os princípios elencados como urgentes na etapa anterior são igualmente válidos tanto no ensino presencial como no ensino online. A avaliação online, no entanto, apresenta como dificuldade acrescida a garantia de autenticidade da autoria dos trabalhos realizados. Para contornar esta questão, é necessário um acompanhamento dos processos de aprendizagem, num processo de avaliação contínua, diversificar momentos, fontes e instrumentos de avaliação de forma a permitir ao professor construir um perfil de cada estudante através da triangulação das várias avaliações. Surge assim o conceito de avaliação alternativa digital baseada na cultura de aprendizagem que privilegia o desenvolvimento de capacidades e competências que devem ser avaliadas numa perspetiva edumétrica.


3ª etapa: Instrumentos de Avaliação Pedagógica em Contextos de Elearning

Quais os instrumentos/estratégias de avaliação alternativos em contextos de eLearning?

Esta também foi uma etapa percorrida em grupo. Aos grupos constituídos, foi proposta a pesquisa de um caso real de avaliação alternativa com recurso a ferramentas digitais, com a elaboração de um artefacto e posterior debate em turma no respetivo fórum.

O meu grupo de trabalho decidiu explorar o portefólio como elemento de avaliação por ter expectativa de utilizar este recurso em ambiente profissional. Não foi fácil encontrar um artigo que servisse de base ao estudo de caso, mas encontrámos o artigo “E-portefóliona disciplina de TIC: uma experiência com alunos do 7º ano”, de Filipa Lopes, que nos pareceu adequadamente descritivo para a análise que pretendíamos fazer.

O estudo de caso que realizámos permitiu não só aprender mais sobre em que consiste o eportefólio, avaliar as dificuldades que a professora que escreveu o artigo encontrou na sua implementação, bem como identificar as vantagens que observou na prática pedagógica.

Em fórum, foi possível analisar trabalhos que exploraram casos de implementação de outros recursos digitais, como as wikis e os mapas conceptuais, numa partilha de informações e experiências verdadeiramente rica e que perspetiva a possibilidade de novas experiências pedagógicas na vida profissional de cada um.


 4ª etapa: Procedimentos e Critérios de Avaliação Pedagógica num Contexto Online 


Desafio da etapa final: definir o design de avaliação de um módulo de formação em contexto de eLearning. (E que desafio!)

Mais uma caminhada em grupo. Foi-nos solicitado que, partindo do modelo de avaliação proposto em “Desafios da avaliação digital no ensino superior”, de Pereira et al., definíssemos um módulo de formação com especial relevo para o plano de avaliação: descrição detalhada das atividades e procedimentos de avaliação programados. O trabalho realizado foi, à semelhança dos anteriores, publicado em fórum onde se discutiram os trabalhos realizados pela turma.

O trabalho proposto foi realizado em formato wiki, só por si uma aprendizagem para todos os elementos do grupo (as aprendizagens invisíveis, lá está…).

Optámos por trabalhar sobre um curso já existente - uma ação de formação para professores e profissionais da educação sobre jogos digitais - e redesenhar o design avaliativo à luz do que aprendemos ao longo desta unidade curricular.

Dizer que foi uma atividade desafiante é só um eufemismo. Foi mesmo difícil. Compreendemos que, à luz da avaliação alternativa digital, ao estudante devem ser propostas tarefas em que impere uma construção pessoal. Que o desenho da avaliação implica a definição de competências a trabalhar e avaliar, sendo necessário que as realizações dos estudantes sejam mediadas pelas tecnologias. Compreendemos tudo, mas na prática…na prática, as estratégias construtivistas exigem muito tempo e são comprometidas pelo prazo disponível; a necessidade institucional de avaliar quantitativamente cria uma tensão na definição de um número que pouco se adequa ao espírito da avaliação formativa e formadora; nem sempre é fácil cumprir satisfatoriamente nas quatro dimensões a ter em conta na avaliação alternativa digital (autenticidade, consistência, transparência e praticabilidade)…

Considero que o trabalho realizado tem qualidade mas que, claro, será possível apontar-lhe pontos a melhorar e que é mais rica a reflexão que gerou que o resultado em si.

Destaco ainda, neste trabalho, o investimento na elaboração de rubricas, elementos fundamentais para um feedback de qualidade e para a autoavaliação dos estudantes. O desenvolvimento de rubricas exige ponderação, análise e treino, considerando eu que este trabalho foi um excelente “estágio” para exercitar a capacidade dos elementos do grupo em desenvolver rubricas no seu ambiente profissional.


E, cumprido o percurso, resta-me dizer que não sinto a viagem terminada. Que há muito caminho ainda por andar e muito por aprender. Que foi um esforço. Que, mantendo a analogia da caminhada, sinto aquela “dor boa” nos músculos que só quem caminha compreende – aquele desconforto que nos faz recordar a jornada, os momentos anedóticos, aqueles em que quase desistimos…mas que superámos!

Sinto que aprendi muito mas que aprendi sobretudo que há muito ainda por aprender e, especialmente, experimentar na prática de sala de aula.

Não posso terminar sem referir o apoio das professoras Lúcia Amante e Elizabeth Souza – só o cuidado e a riqueza dos feedbacks aos trabalhos realizados foram uma aprendizagem inestimável. Lembrar-me-ei certamente deles – da sua justeza e valor pedagógico, associados a uma delicadeza que nos nos fazia receber tais comentário com o coração aberto – sempre que, enquanto professora, avaliar os trabalhos dos meus alunos.

Finalmente, e nesta reta final de primeiro ano de mestrado, um obrigada a todos os colegas da turma. Não só àqueles com quem fiz trabalhos de grupo - foram um alento para manter o ritmo! -  mas a todos os que tiveram o cuidado de ler os trabalhos realizados e que os comentaram e os debateram, possibilitando um clima de partilha e de aprendizagem no verdadeiro espírito conectivista. De vós, levo muito do que aprendi este ano!

 






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