A fechar a unidade curricular (UC) de Avaliação em Contextos de eLearning, foi-me pedido um relatório, uma espécie de “Diário de Bordo” do percurso na UC.
Ora um “Diário de bordo” sugere uma viagem embarcada. Uma
viagem no conforto de um avião ou embalada pelas águas, num barco. E eu não
senti este percurso como uma viagem embarcada. Senti-o como uma etapa que foi
percorrida a pé. Com esforço, cansaço, resiliência e alento dos companheiros de
jornada.
Assim, esclareço que este não é um “Diário de bordo”. É
antes uma “Diário de caminhada”. Às vezes por caminhos já trilhados, outras por
caminhos por desbravar.
Numa viagem, a riqueza está mais no caminho que no destino e
esta foi uma viagem em que me lancei com entusiasmo. Saber mais sobre como
avaliar em contextos de eLearning foi um dos motivos para a minha candidatura
ao mestrado de Pedagogia em eLearning por isso o espírito inicial era já de expectativa
bastante elevada.
1ª etapa: Avaliação Pedagógica - Atuais perspetivas
Como em qualquer conversa, experiências foram trocadas, num
processo dialógico rico e interessante. Foi possível constatar que, como
noutros campos da pedagogia, há de facto um hiato entre o plano teórico e o
plano prático, sendo as mudanças na prática, muitas vezes limitadas pelo
contexto institucional, sempre mais lentas que a evolução que se observa a
nível de pesquisa e de novos conceitos pedagógicos.
Conclusão? Urge reconhecer que o objetivo da escola é
ensinar a aprender. Que enquanto os alunos não se apropriarem do seu próprio
processo de aprendizagem, o processo de ensino-aprendizagem estará sempre
empobrecido. O mundo de hoje exige cidadãos preparados para aprender ao longo
da vida, sendo a competência de construir o seu próprio conhecimento das mais importantes
que a escola pode dar aos seus alunos. É indispensável explorar processos de
metacognição e reconhecê-la como um meio de aprendizagem, apostando na
autoavaliação reguladora. Para o sucesso deste processo, são determinantes o o
papel do professor e o feedback de qualidade.
2ª etapa: Avaliação Pedagógica Digital em Contextos de
Elearning
A turma foi dividida em grupos. Cada grupo devia analisar
três textos, dois sugeridos pelas professoras – “Desafios da avaliação digital no ensino superior”, de Alda Pereira et al., e “A avaliação da aprendizagem no ambiente online, de Stella Porto - e um
terceiro fruto da pesquisa do grupo – o meu grupo escolheu o artigo “Problemáticas da avaliação em educação online”, de Maria João Gomes. A partir da análise
dos artigos, foi elaborado um artefacto com a síntese das especificidades da avaliação contexto online e as principais linhas de força dos três textos analisados. Os artefactos realizados pelos
grupos foram alvo de observação, análise e discussão pela turma toda em fórum
próprio. Foi possível, para além do debate sobre a especificidade da avaliação
pedagógica em contextos de e-learning, compreender alguns modelos teóricos deste
tipo de avaliação.
Que balanço? Os princípios elencados como urgentes na etapa
anterior são igualmente válidos tanto no ensino presencial como no ensino
online. A avaliação online, no entanto, apresenta como dificuldade acrescida a garantia
de autenticidade da autoria dos trabalhos realizados. Para contornar esta
questão, é necessário um acompanhamento dos processos de aprendizagem, num
processo de avaliação contínua, diversificar momentos, fontes e instrumentos de
avaliação de forma a permitir ao professor construir um perfil de cada
estudante através da triangulação das várias avaliações. Surge assim o conceito
de avaliação alternativa digital baseada na cultura de aprendizagem que privilegia
o desenvolvimento de capacidades e competências que devem ser avaliadas numa perspetiva
edumétrica.
3ª etapa: Instrumentos de Avaliação Pedagógica em
Contextos de Elearning
Esta também foi uma etapa percorrida em grupo. Aos grupos
constituídos, foi proposta a pesquisa de um caso real de avaliação alternativa
com recurso a ferramentas digitais, com a elaboração de um artefacto e
posterior debate em turma no respetivo fórum.
O meu grupo de trabalho decidiu explorar o portefólio como
elemento de avaliação por ter expectativa de utilizar este recurso em ambiente
profissional. Não foi fácil encontrar um artigo que servisse de base ao estudo
de caso, mas encontrámos o artigo “E-portefóliona disciplina de TIC: uma experiência com alunos do 7º ano”, de Filipa Lopes,
que nos pareceu adequadamente descritivo para a análise que pretendíamos fazer.
O estudo de caso que realizámos permitiu não só aprender mais sobre em
que consiste o eportefólio, avaliar as dificuldades que a professora que escreveu o
artigo encontrou na sua implementação, bem como identificar as vantagens que observou na
prática pedagógica.
Em fórum, foi possível analisar trabalhos que exploraram
casos de implementação de outros recursos digitais, como as wikis
e os mapas conceptuais, numa partilha de informações e experiências verdadeiramente
rica e que perspetiva a possibilidade de novas experiências pedagógicas na vida
profissional de cada um.
Mais uma caminhada em grupo. Foi-nos solicitado
que, partindo do modelo de avaliação proposto em “Desafios da avaliação digital no ensino superior”, de Pereira et al., definíssemos um
módulo de formação com especial relevo para o plano de avaliação: descrição
detalhada das atividades e procedimentos de avaliação programados. O trabalho
realizado foi, à semelhança dos anteriores, publicado em fórum onde se
discutiram os trabalhos realizados pela turma.
O trabalho proposto foi realizado em formato wiki, só por si
uma aprendizagem para todos os elementos do grupo (as aprendizagens invisíveis,
lá está…).
Dizer que foi uma atividade desafiante é só um eufemismo.
Foi mesmo difícil. Compreendemos que, à luz da avaliação alternativa digital,
ao estudante devem ser propostas tarefas em que impere uma construção pessoal.
Que o desenho da avaliação implica a definição de competências a trabalhar e
avaliar, sendo necessário que as realizações dos estudantes sejam mediadas
pelas tecnologias. Compreendemos tudo, mas na prática…na prática, as estratégias construtivistas
exigem muito tempo e são comprometidas pelo prazo disponível; a necessidade institucional
de avaliar quantitativamente cria uma tensão na definição de um número que
pouco se adequa ao espírito da avaliação formativa e formadora; nem sempre é fácil
cumprir satisfatoriamente nas quatro dimensões a ter em conta na avaliação
alternativa digital (autenticidade, consistência, transparência e praticabilidade)…
Considero que o trabalho realizado tem qualidade mas que,
claro, será possível apontar-lhe pontos a melhorar e que é mais rica a reflexão
que gerou que o resultado em si.
Destaco ainda, neste trabalho, o investimento na elaboração de rubricas, elementos fundamentais para um feedback de qualidade e para a autoavaliação dos estudantes. O desenvolvimento de rubricas exige ponderação, análise e treino, considerando eu que este trabalho foi um excelente “estágio” para exercitar a capacidade dos elementos do grupo em desenvolver rubricas no seu ambiente profissional.
Sinto que aprendi muito mas que aprendi sobretudo que há
muito ainda por aprender e, especialmente, experimentar na prática de sala de
aula.
Não posso terminar sem referir o apoio das professoras Lúcia
Amante e Elizabeth Souza – só o cuidado e a riqueza dos feedbacks aos trabalhos
realizados foram uma aprendizagem inestimável. Lembrar-me-ei certamente deles –
da sua justeza e valor pedagógico, associados a uma delicadeza que nos nos
fazia receber tais comentário com o coração aberto – sempre que, enquanto
professora, avaliar os trabalhos dos meus alunos.
Finalmente, e nesta reta final de primeiro ano de mestrado, um obrigada a todos os colegas da turma. Não só àqueles com quem fiz trabalhos de grupo - foram
um alento para manter o ritmo! - mas a
todos os que tiveram o cuidado de ler os trabalhos realizados e que os
comentaram e os debateram, possibilitando um clima de partilha e de aprendizagem no verdadeiro espírito conectivista. De vós, levo muito do que aprendi este
ano!
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