Sobre a realização de vídeos para a inversão da sala de aula


Reflexão  sobre a Unidade 3: "Best Practices in the Individual Space" e a Unidade 4: "Technology" do curso Flipped Learning 3.0 Certification Level - I Masterclass, da Flipped Learning Global Iniciative.


A inversão da sala de aula não implica a utilização de vídeos, mas se for esse o recurso utilizado, há que garantir a sua qualidade, fator fundamental para o sucesso da inversão da aula.

Garantir a qualidade de um vídeo não significa que o professor seja um profissional em multimedia ou um apresentador de televisão. Na verdade, há que encarar que dificilmente um professor estará a fazer vídeos perfeitos, sendo que a proximidade aos alunos é mais importante que a qualidade profissional de um vídeo - os estudantes reagem melhor à narração feita pelo seu professor que a realizada por um estranho. A voz do professor, a conexão que já existe entre ele e os alunos, é fundamental para a eficácia do vídeo.

Ainda assim, assumindo o nosso amadorismo, há algumas recomendações na realização dos vídeos a usar como recurso de aprendizagem neste contexto:

1. O áudio é fundamental. Vale a pena o investimento num bom microfone. Um vídeo com mau audio nunca é claro.

2. A voz do professor faz a diferença na captação da atenção dos alunos. É mais eficaz um vídeo que conjugue gráficos e narração que outro que conjugue animação e texto. Não sendo a voz do professor a narrar, há que referir que a voz humana promove mais a aprendizagem que a voz de máquina - a conexão humana é um fator a levar em conta. 

3. É mais eficaz a realização de anotações feitas pelo professor ao longo do vídeo que apenas uma apresentação digital (em Power Point, por exemplo). Reconhecendo que poucos serão os professores com recurso a um lightboard, o mais funcional será o uso de uma mesa digitalizadora.

4. A imagem do professor no vídeo é importante para captar a atenção dos estudantes. Se possível, o professor deve manter a comunicação não verbal através de gestos. Também é aconselhável manter a narração como uma conversa, em vez de adotar um estilo formal. Já uma imagem estática do professor no vídeo, não contribui para o aumento da aprendizagem.

5. Resulta bem a interação entre duas pessoas. Um vídeo pode ser realizado como um diálogo, tornando-o mais dinâmico.

6. Ao vídeo podem ser acrescentadas formas como setas, círculos...e efeitos audio para captar a atenção do estudante.

7. O recurso ao texto deve ser limitado ao essencial. Estudos comprovam que os alunos compreendem melhor um vídeo que contemple gráficos e narração que outro que contemple gráficos, narração e texto. De facto, este último não aumenta a aprendizagem, sendo um fator de distração.

8. Os vídeos devem ser simples, curtos e focar apenas um assunto. É preferível criar dois vídeos separados mais curtos que fazer um  único mais longo. Relativamente à duração de vídeos, Bergmann sugere que a duração máxima de um vídeo deve ser igual à idade dos alunos a quem esse vídeo se destina. Magnus Nor, formador norueguês de professores, e Steven Kolber,  professor de inglês australiano, no entanto, tendo estudado o assunto, são de opinião que os alunos não conseguem manter a atenção em vídeos de duração superior a 6 minutos. Idealmente, um vídeo devia ter entre 3 e 6 minutos. Parece difícil! Os especialistas garantem, no entanto, que quanto mais um professor treina a realização de vídeos, mais conciso consegue ser, diminuindo a sua duração.

Será fácil cumprir todos estes requisitos? Não o será certamente e muito menos para um professor inexperiente em criar vídeos enquanto recursos educativos. Como incentivo, refiro que a prática ajudará a melhorar a qualidade dos vídeos e a rapidez com que se constroem, mas idealizar vídeos perfeitos será com certeza um entrave à concretização da tarefa. O facto de nos expormos, de experimentarmos e de ousarmos fazer algo que nos faça sair da nossa zona de conforto, é também uma lição que deixamos aos nossos alunos e que muitos deles valorizarão.

A este respeito, partilho que em 2020, no primeiro confinamento devido à pandemia COVID-19, com o encerramento abrupto das escolas, sem qualquer formação e pouca reflexão, dei por mim a gravar vídeos para os alunos que iriam a exame nesse ano, numa tentativa algo desesperada de lhes dar apoio numa situação tão disruptiva. Na autoavaliação de final de ano, recebi o seguinte comentário de um aluno: "Não a vou induzir em erro, este período foi complicadíssimo para todos nós e se dissesse que consegui aderir a tudo o que a professora ensinou estaria de facto a mentir (...). No entanto, (...) tenho de agradecer realmente o esforço da stora, desde as aulas gravadas para os testes do Moodle(...) o seu empenho nestes tempos difíceis marcou-me para a vida"...de facto, há coisas mais importantes que a perfeição e o que deixamos aos nossos alunos no nosso esforço por fazer melhor é muito mais que a mera disponibilização de recursos educativos...






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