No seguimento do resumo da primeira parte do livro "Sala de Aula Invertida - uma Metodologia Ativa de Aprendizagem", onde os autores introduzem o método da sala de aula invertida, e do resumo da segundo parte deste livro, que introduz o método da sala de aula invertida para a aprendizagem do domínio, concluo este conjunto de artigos com o resumo e reflexão relativa à parte final da obra, que se dedica a explicar como implementar este modelo de ensino-aprendizagem.
Implementando o modelo invertido de aprendizagem para o domínio - como começar
Bergmann e Sams referem que no início do ano letivo começam por apresentar a metodologia de trabalho aos estudantes, sublinhando a importância dos alunos assumirem a responsabilidade pela sua própria aprendizagem. Mencionam ainda que envolvem os pais explicando o modelo através de missiva escrita, indicando as vantagens do modelo invertido de aprendizagem do domínio e que estão disponíveis para esclarecer dúvidas para dissipar eventuais resistências.
É também fundamental ensinar os alunos a assistir aos vídeos disponibilizados. Os autores estimulam os alunos a eliminarem as distrações, focando-se na tarefa, e dedicam algum tempo nos primeiros dias de aula para assistir aos vídeos em conjunto. Nesta atividade, começa por ser o professor a ter o controlo para parar e retroceder o vídeo, salientando pontos importantes; numa fase seguinte, o controlo para parar e retroceder passa para um dos alunos. Naturalmente, o ritmo do aluno que controla o vídeo não é igual ao dos colegas, pelo que o professor aproveita para explicar a vantagem de cada um controlar a visualização do vídeo e, consequentemente, a sua própria aprendizagem. Durante esta fase de treino, os professores ensinam também a aumentar a eficácia das anotações realizadas pelos alunos.
Implementando o modelo invertido de aprendizagem para o domínio - consolidando a metodologia
Como garantir que os alunos assistiram ao vídeo?
Esta questão já foi alvo de atenção no primeiro artigo desta série. Bergamann e Sams dão especial relevo à estratégia de solicitar aos alunos, individualmente ou em grupo, pelo menos uma "pergunta interessante" por vídeo. Se forem levantadas questões para as quais o professor não tem a resposta, professor e aluno pesquisam juntos a solução. A exigência de pedir uma pergunta por vídeo é especialmente importante para os alunos que geralmente não interagem com o professor.
O layout da sala de aula também deve ser alvo de atenção. O modelo de sala de aula invertida para a aprendizagem, sendo projetado em torno da aprendizagem, torna obsoleto o layout tradicional, onde o foco da sala se situa na frente, como um palco para o professor. Em vez disso, fará mais sentido que o foco se situe no meio, como acontece geralmente no jardim de infância. Esta nova disposição deixa de dar enfoque ao professor para, em vez disso, focar a aprendizagem e os alunos. Bergmann e Sams referem inclusivé que na sua sala de aula os quadros interativos são colocados na lateral da sala e não na dianteira, para que os alunos os usem como ferramenta interativa para a aprendizagem, sendo usados como estação de trabalho em que os alunos exploram simulações online, colaboram em projetos ou simplesmente "exploram novas maneiras de aprender e de compreender".
A propósito, e fazendo um parêntesis na análise do livro em estudo, no artigo "3 ways to get your students to like doing homework in a flipped class", é partilhada uma imagem onde se compara o layout de uma sala de aula tradicional de Física Aplicada na Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas, na Universidade de Harvard, lecionada pelo professor Eric Mazur, com o layout da mesma aula, na mesma escola, com o mesmo professor em regime de sala de aula invertida. O professor é identificado pela seta em cada uma das fotos.
Sendo Bergmann e Sams professores de Química, uma ciência experimental, criaram na sua prática um layout próprio, dividindo o recinto da sala em diferentes áreas - uma estação laboratorial sobre diferentes tipos de reações químicas, outra para reações específicas e uma terceira para fórmulas de laboratório. O que os autores referem é que, desta forma, o número de equipamentos por aula diminui, porque os alunos não estão a realizar a atividade todos ao mesmo tempo, o que implica vantagens em termos económicos. Por outro lado, como o professor fica mais livre para trabalhar com um grupo em concreto, aumenta o nível de segurança no laboratório.
Outra vantagem que Bergmann e Sams mencionam relativamente a esta metodologia é o facto de, ao se darem conta que a aprendizagem é o principal objetivo, os alunos começarem a recorrer uns aos outros para receber ajuda, começando a organizar-se automaticamente em grupos de aprendizagem. O papel do professor é também distribuir os alunos por grupos estratégicos, identificando os alunos que estão a trabalhar num mesmo conteúdo e estimulando a criação de grupos funcionais.
Nossos alunos percebem que é melhor trabalhar em equipa que trabalhar sozinhos. Chegamos, assim, ao âmago da aprendizagem no século XXI: alunos trabalhando juntos para realizar os mesmos objetivos. Sabemos que, em breve, entrarão no mundo do trabalho, em que pessoas raramente atuam sozinhas.
(Bergmann e Sams, 2018)
Implementando o modelo invertido de aprendizagem para o domínio - sobre a avaliação
No modelo invertido de aprendizagem para o domínio, defendem Bergmann e Sams que "o ónus da prova no processo formativo é dos alunos". Compete aos alunos a apresentação das evidências de que estão a alcançar os objetivos. Quando os alunos não são capazes de demonstrar que dominam os conteúdos, cabe ao professor criar rapidamente planos de recuperação personalizados para que repitam o processo e possam progredir para os objetivos seguintes. Estes planos podem constar de recomendações para que os alunos vejam de novo os vídeos, sugestões de livros ou websites, ou simplesmente uma sessão onde o professor revisite com os alunos os conceitos que não foram compreendidos.
Assim, a avaliação formativa é a predominante ao longo do processo.
Compete ao professor avaliar constantemente a trajetória do aluno e oferecer feedback imediato que o mantenha no rumo seguro das rodovias da aprendizagem. (...) Um dos componentes do bom ensino é o de acompanhar o aluno ao longo da jornada da aprendizagem, em vez de apenas verificar se chegou ao destino com segurança.
Tampouco existe uma única maneira de inverter, uma única maneira de avaliar, e uma única maneira de oferecer feedback ao alunos.
E agora incubimos você, como nosso leitor, a sair a campo e fazer o que for necessário para considerar a educação sob esta nova perspetiva. Ainda que não adote o método inverso na sua plenitude, esperamos, sobretudo, que você investigue: "O que é melhor para os nossos alunos?", e, então, parta para a ação.
Referências
Bergmann, J. e Sams, A. (2018). Sala de aula invertida: Uma metodologia ativa de aprendizagem. Rio de Janeiro: LTC.
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