A publicação referida, ainda que surgida num momento ímpar na história, numa disrupção pedagógica contida no tempo, lança orientações que podem repercutir-se num futuro bem mais alargado, numa perspetiva de repensar a sala de aula apostando numa inovação pedagógica sustentada.
De acordo com a Comissão Europeia (2020), o ensino híbrido deve ser interpretado como uma abordagem pedagógica que combina a aprendizagem em sala de aula presencial com ensino a distância, incluindo ensino online.
Há que reconhecer que uma abordagem híbrida exige um repensar da prática pedagógica, uma análise cuidada sobre como e quando usar melhor os diferentes ambientes - presenciais e virtuais – selecionando os mais adequados para o estudo autónomo, a investigação colaborativa, a interação social, a aplicação prática... tal leva a uma reflexão sobre o que se entende por escola, por sala de aula, quais as suas fronteiras, e como aproveitar melhor o tempo em que estamos com os nossos alunos.
São vários os benefícios da aprendizagem híbrida apontados pela Comissão Europeia (2020):
- Uma aprendizagem mais ativa por parte dos alunos. O professor deixa de ser o único facilitador do processo; os alunos deixam de ser meros recetores passivos da informação;
- Possibilidade de um ensino mais personalizado, com os professores a apoiarem – presencialmente ou em ambiente virtual - os seus alunos de forma diferenciada;
- Maior autonomia, motivação e iniciativa por parte dos alunos;
- Desenvolvimento de competências para a aprendizagem ao longo da vida;
- Desenvolvimento de competências digitais;
- Os períodos presenciais podem ser usados para desenvolver capacidades sociais e sentimento de pertença a uma comunidade.
- os ambientes de aprendizagem (casa, online, escola, local de trabalho, outros);
- processos de desenvolvimento de competências (aprendizagem ao longo da vida e profissional);
- a esfera afetiva (motivação, satisfação, desânimo, frustração);
- as pessoas envolvidas (alunos, professores, pais, outros funcionários).
O ensino híbrido perspetiva um processo de aprendizagem que se estende antes e depois de um evento educativo estruturado, uma "lição", incentivando o aluno a apropriar-se de todo o processo, colaborando com os outros (professores, colegas, pais...) em diferentes fases. Desta forma, reduz a transferência de informação unidirecional professor-aluno, sendo uma característica dominante o estabelecimento de etapas “antes” e “depois” da "lição", etapas essas consideradas como especialmente significativas no processo de aprendizagem. A estrutura da aprendizagem, incluindo os momentos "antes" e "depois" da "lição", é representada na seguinte figura:
Staker e Horn (2012) defendem que o modelo de sala de aula invertida está de acordo com a ideia de que o ensino híbrido inclui algum elemento de controle do aluno sobre o tempo, lugar, caminho e/ou ritmo uma vez que permite não só a escolha por parte dos alunos quanto ao local onde recebem o conteúdo e instrução on-line, como também a definição do ritmo a que se movem através do elementos on-line.
Sendo que o modelo da sala de aula invertida não entra em rutura com o conceito da sala de aula tradicional, no sentido em que se mantêm as turmas, os horários e as condições físicas da escola, poder-se-á questionar em que medida a inversão pode melhorar a aprendizagem do aluno. De acordo com Moreira e Horta (2020), o facto de na aula tradicional a velocidade da explicação dada pelo professor ser igual para todos os alunos, gera desigualdades, uma vez que o professor pode acelerar ou diminuir o ritmo da apresentação, mas nunca se conseguirá ajustar à rapidez de progresso de cada um dos alunos. Assim, a transferência da introdução teórica para um formato online
dá aos alunos a oportunidade de retroceder ou avançar de acordo com a sua velocidade de compreensão. Eles decidem o que e quando assistir, e isso, teoricamente, proporciona-lhes mais autonomia e iniciativa de aprendizagem.
que o tempo despendido na exposição dos conteúdos seja substituído por metodologias mais ativas, onde o aluno é convidado a resolver problemas, a discutir conhecimentos adquiridos ou a trabalhar em equipa.
Como exemplo de uma escola que adotou o modelo de sala de aula invertida, Staker e Horn (2012) referem as Escolas Públicas da Área Stillwater ao longo do Rio St. Croix no Minnesota, onde os alunos nas aulas de Matemática do 4º ao 6º ano usam dispositivos depois da escola, no local à sua escolha, para, em 10 ou 15 minutos, assistir a vídeos com instruções assíncronas e realizar perguntas de compreensão na plataforma Moodle. Na escola, os alunos praticam e aplicam a sua aprendizagem com um professor.
A figura seguinte ilustra esse modelo de sala de aula invertida.
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