Ensino híbrido (Blended Learning ou bLearning)




Quando em 2020 as escolas, devido à COVID-19, fecharam de forma abrupta, transitando para um regime de ensino remoto de emergência, alunos e professores tiveram de interagir através das tecnologias, novas estratégias foram experimentadas, muito se ganhou em termos de domínio do digital e até da aquisição de equipamentos por parte das escolas e das famílias. Dois confinamentos depois, a escola não pode ser a mesma. Muitos professores procuram conciliar o melhor do ensino presencial e o melhor do ensino digital, numa simbiose de recursos e estratégias que enriquecem os ambientes de aprendizagem.  

O conceito, na verdade, não é novo. Já em 2013, União Europeia (Comissão europeia, 2013) apontava que "uma maior utilização das experiências de aprendizagem que combine as modalidades presenciais e em linha (aprendizagem mista) pode ajudar a reforçar a motivação dos alunos e a eficiência das aprendizagens". A tecnologia é ainda indicada como uma ferramenta adequada à personalização do ensino, já que "a análise da aprendizagem pode fazer emergir métodos de ensino novos e mais centrados nos alunos, uma vez que a evolução dos alunos que utilizam TIC regulamente pode ser acompanhada de perto."  

Moreira e Horta  definem educação híbrida como 

um conceito de educação total caraterizado pelo uso de soluções combinadas, envolvendo a interação entre diferentes modalidades, abordagens pedagógicas e recursos tecnológicos. 

(Moreira e Horta, 2020: 4) 

Já Christensen, Horn e Staker definem o ensino híbrido da seguinte maneira: 

O ensino híbrido é um programa de educação formal no qual um aluno aprende, pelo menos em parte, por meio do ensino online, com algum elemento de controle do estudante sobre o tempo, lugar, modo e/ou ritmo do estudo, e pelo menos em parte em uma localidade física supervisionada, fora de sua residência.  

(Christensen, Horn e Staker, 2013: 7)

Christensen, Horn e Staker esclarecem que num curso que funcione em ambiente híbrido as modalidades online e presenciais estão geralmente conectadas, isto é, "os estudantes continuam o estudo de onde pararam quando trocam de uma modalidade para outra" (Christensen, Horn e Staker, 2013: 7). 

O termo "educação total" na definição de Moreira e Horta remete-nos para a importância de não pensar o ensino híbrido apenas como a inclusão do digital em sala de aula, antes repensar a sala de aula em si, apostando em estratégias dinâmicas que envolvam diferentes recursos e abordagens pedagógicas emergentes, onde "a comunicação possa assumir um papel fulcral unindo e aproximando atores humanos e não-humanos" (Moreira e Horta, 2020: 6), ampliando os cenários de interação que, por sua vez, promovem estratégias de ensino onde tomam palco a participação do aluno, a cooperação entre pares, a bidirecionalidade no fluxo de informação. 

Uma das vantagens do ensino híbrido é a flexibilidade que oferece em termos pedagógicos, já que  

permite ao professor propor soluções variadas de ensino e aprendizagem, com uso das tecnologias digitais, e criar desenhos didáticos, quer centrados no aluno (user-centred design) quer no professor. 

(Moreira e Horta, 2020: 8)


 Figura 1. Definição do ensino híbrido 
Fonte: ChristensenHorn e Staker, 2013, p. 8. Traduzido para o Português por Fundação Lemann e Instituto Península 


Há que refletir sobre o processo de hibridização a implementar nas nossas escolas. Este processo pode emergir como uma inovação sustentada em relação à sala de aula tradicional, criando estratégias que ampliam e melhoram o paradigma existente; mas podem também ser disruptivos, estes são descritos por Christensen, Horn,e Staker como 

não [incluindo] a sala de aula tradicional em sua forma plena; [tendo] frequentemente (…) início entre não-consumidores; [oferecendo] benefícios de acordo com uma nova definição do que é bom;[tendendo] a ser mais difíceis para adotar e operar. 

(Christensen, Horn e Staker, 2013: 3)

Os principais modelos de ensino híbrido caem em quatro categorias, descritas na seguinte apresentação interativa: 

Há que sublinhar que existem estratégias que podem combinar vários modelos de ensino híbrido. Na verdade, "os modelos apresentados podem ser utilizados através de múltiplas combinações, criando programas personalizados de aprendizagem" (Moreira e Horta, 2020: 19).  

O ensino híbrido pode ser um caminho realista para enriquecer os ambientes de aprendizagem e para trazer pedagogias mais ativas para a sala de aula num processo sustentado de mudança com vista a um ensino adequado ao mundo que os nossos alunos encontrarão enquanto cidadãos e profissionais. 


Referências

Europeia, C. (2013). Abrir a Educação: Ensino e aprendizagem para todos de maneira inovadora graças às novas tecnologias e aos Recursos Educativos Abertos. Bruxelas: Serviço de Publicações da Comissão Europeia.

Christensen, C. M., Horn, M. B., & Staker, H. (2013). Ensino Híbrido: uma Inovação Disruptiva? Uma introdução à teoria dos híbridos. Clayton Christensen Institute for Disruptive Innovation. Traduzido para o Português por Fundação Lemann e Instituto Península


Moreira, J. A., & Horta, M. J. . (2020). Educação e ambientes híbridos de aprendizagem. Um processo de inovação sustentada. Revista UFG, 20(26). https://doi.org/10.5216/revufg.v20.66027


Staker, H., & Horn, M. B. (2012). Classifying K–12 blended learning.  Innosight Institute


 

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