Educação digital onlife


Em 2013, Luciano Floridi , professor de Filosofia e Ética da Informação na Universidade de Oxford, cunha o termo onlife como forma de definir a nova realidade hiperconectada em que vivemos. 


No documento 
The onlife manifesto: Being human in a hyperconnected era (2015), Floridi defende que o desenvolvimento e a ubiquidade das tecnologias da comunicação têm um impacto tão radical na condição humana, que devem deixar de ser pensadas como meras ferramentas, para passarem a ser consideradas fatores ambientais que afetam: 

  1.  A nossa auto-perceção (quem somos); 
  2. As nossas interações (como socializamos); 
  3. A nossa conceção da realidade (a nossa metafísica); 
  4. As interações com a realidade (a nossa ação). 

 

No referido documento, são mencionadas ainda as transformações que ocorrem da ubiquidade das tecnologias na nossa vida e que são responsáveis pelo impacto supracitado: 

  1. A falta de clareza na distinção entre o real e o virtual; 
  2. A falta de clareza na distinção entre humano, máquina e natureza; 
  3. A inversão de uma realidade de escassez informativa para outra de excesso de informação; 
  4. A mudança da primazia das coisas, propriedades e relações binárias independentes, para a primazia das interações, processos e redes. 

 

Assistimos, assim, a uma reconfiguração em diferentes contextos do nosso mundo, seja na Ciência, no mundo laboral, no lazer e na forma como nos relacionamos com os outros.  

 

Fazendo um paralelismo com a forma como a tecnologia está "embutida" na nossa realidade, tornando-se até "invisível" à nossa perceção,  Schlemmer & Moreira (2020) referem a energia elétrica, cuja existência é tão omnipresente que passa despercebida no nosso dia-a-dia.  Essa omnipresença influencia a relação entre humanos e tecnologia, tornando-a cada vez menos indistinta da relação entre humanos e a natureza. Como exemplo dessa interação,  Schlemmer & Moreira (2020) mencionam a " Internet of Things - IoT (Internet da Coisas) ou ainda, mais recentemente [o] conceito de Internet Everthing". 

 

Nas palavras de Schlemmer & Moreira (2020), assistimos na nossa era a uma "articulação dos diferentes atores humanos e não humanos" que, interagindo e influenciando-se mutuamente, modificam as entidades biológicas e físicas. De facto, se é verdade que a nossa inteligência se aproxima da da máquina pelo acesso ao conhecimento em rede, também é verdade que a inteligência artificial está cada vez mais "humanizada", sendo possível acreditar que estas inteligências, estes dois mundos, acabarão por de alguma forma convergir entre si. 

 

Neste contexto, Schlemmer & Moreira (2020) propõem o termo "infovíduos", os seres biológicos que incorporam as habilidades e informações acessíveis através das redes digitais de comunicação, que habitam num mundo que deixou de ser apenas físico, o "infomundo", num processo de hibridização entre a realidade física e a digital. 

 

E como se reflete esta realidade na educação? 

 

Moreira (2018) acredita que, na generalidade, as instituições educativas têm procurado adaptar-se à nova realidade. 


Compreender o novo paradigma onlife exige, no entanto, deixar de pensar as tecnologias e o digital como instrumentos, e compreender que não é suficiente já simplesmente integrar o digital no processo educativo, mas antes "assegurar que os cidadãos evoluam de meros consumidores para produtores esclarecidos e ativos, preparando-os para uma verdadeira cultura do digital". 

 

Como sublinhado por Schlemmer & Moreira (2020), os computadores não podem ser entendidos como curas milagrosas para todos os problemas da educação nem como instrumentos que reproduzem digitalmente as práticas de ensino tradicional. A ênfase não deve estar na tecnologia, antes em novos modelos pedagógicos que apostem no desenvolvimento de competências para o século XXI, onde a tecnologia tem um papel inquestionável como ambiente promotor de redes de aprendizagem e conhecimento. 


Referências:

 

Floridi, L. (2015). The onlife manifesto: Being human in a hyperconnected era (p. 264). Springer Nature. 

 

Moreira, J. A. (2018). RECONFIGURANDO ECOSSISTEMAS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM COM TECNOLOGIAS AUDIOVISUAIS. EmRede - Revista De Educação a Distância5(1), 5-15. Recuperado de https://www.aunirede.org.br/revista/index.php/emrede/article/view/305 

 

Schlemmer, E., & Moreira, J. A. M. (2020). Ampliando Conceitos para o Paradigma de Educação Digital OnLIFE . Interacções16(55), 103–122. https://doi.org/10.25755/int.21039 

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