Em 2013, Luciano Floridi , professor de Filosofia e Ética da Informação na Universidade de Oxford, cunha o termo onlife como forma de definir a nova realidade hiperconectada em que vivemos.
- A nossa auto-perceção (quem somos);
- As nossas interações (como socializamos);
- A nossa conceção da realidade (a nossa metafísica);
- As interações com a realidade (a nossa ação).
No referido documento, são mencionadas ainda as transformações que ocorrem da ubiquidade das tecnologias na nossa vida e que são responsáveis pelo impacto supracitado:
- A falta de clareza na distinção entre o real e o virtual;
- A falta de clareza na distinção entre humano, máquina e natureza;
- A inversão de uma realidade de escassez informativa para outra de excesso de informação;
- A mudança da primazia das coisas, propriedades e relações binárias independentes, para a primazia das interações, processos e redes.
Assistimos, assim, a uma reconfiguração em diferentes contextos do nosso mundo, seja na Ciência, no mundo laboral, no lazer e na forma como nos relacionamos com os outros.
Fazendo um paralelismo com a forma como a tecnologia está "embutida" na nossa realidade, tornando-se até "invisível" à nossa perceção, Schlemmer & Moreira (2020) referem a energia elétrica, cuja existência é tão omnipresente que passa despercebida no nosso dia-a-dia. Essa omnipresença influencia a relação entre humanos e tecnologia, tornando-a cada vez menos indistinta da relação entre humanos e a natureza. Como exemplo dessa interação, Schlemmer & Moreira (2020) mencionam a " Internet of Things - IoT (Internet da Coisas) ou ainda, mais recentemente [o] conceito de Internet Everthing".
Nas palavras de Schlemmer & Moreira (2020), assistimos na nossa era a uma "articulação dos diferentes atores humanos e não humanos" que, interagindo e influenciando-se mutuamente, modificam as entidades biológicas e físicas. De facto, se é verdade que a nossa inteligência se aproxima da da máquina pelo acesso ao conhecimento em rede, também é verdade que a inteligência artificial está cada vez mais "humanizada", sendo possível acreditar que estas inteligências, estes dois mundos, acabarão por de alguma forma convergir entre si.
Neste contexto, Schlemmer & Moreira (2020) propõem o termo "infovíduos", os seres biológicos que incorporam as habilidades e informações acessíveis através das redes digitais de comunicação, que habitam num mundo que deixou de ser apenas físico, o "infomundo", num processo de hibridização entre a realidade física e a digital.
E como se reflete esta realidade na educação?
Moreira (2018) acredita que, na generalidade, as instituições educativas têm procurado adaptar-se à nova realidade.
Compreender o novo paradigma onlife exige, no entanto, deixar de pensar as tecnologias e o digital como instrumentos, e compreender que não é suficiente já simplesmente integrar o digital no processo educativo, mas antes "assegurar que os cidadãos evoluam de meros consumidores para produtores esclarecidos e ativos, preparando-os para uma verdadeira cultura do digital".
Como sublinhado por Schlemmer & Moreira (2020), os computadores não podem ser entendidos como curas milagrosas para todos os problemas da educação nem como instrumentos que reproduzem digitalmente as práticas de ensino tradicional. A ênfase não deve estar na tecnologia, antes em novos modelos pedagógicos que apostem no desenvolvimento de competências para o século XXI, onde a tecnologia tem um papel inquestionável como ambiente promotor de redes de aprendizagem e conhecimento.
Referências:
Floridi, L. (2015). The onlife manifesto: Being human in a hyperconnected era (p. 264). Springer Nature.
Moreira, J. A. (2018). RECONFIGURANDO ECOSSISTEMAS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM COM TECNOLOGIAS AUDIOVISUAIS. EmRede - Revista De Educação a Distância, 5(1), 5-15. Recuperado de https://www.aunirede.org.br/revista/index.php/emrede/article/view/305
Schlemmer, E., & Moreira, J. A. M. (2020). Ampliando Conceitos para o Paradigma de Educação Digital OnLIFE . Interacções, 16(55), 103–122. https://doi.org/10.25755/int.21039
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